A experiência da sensibilidade pelo que sofre

Meditações no Salmo 41

Se compadecer, ser tocado pela dor alheia, ter compaixão da situação dolorida do outro, viver a experiência da sensibilidade pelo que sofre… Esse tipo de disposição deveria ser óbvia para todo discípulo e discípula de Jesus de Nazaré. O Todo-Poderoso foi movido por esse tipo de disposição pela nossa vida. Logo, nada mais natural, uma vez que fomos alvo do amor de um Deus que se sensibilizou por nós em meio ao nosso sofrimento, angústia e perdição – em consequência da Queda –, que nos sensibilizássemos pela dor alheia. Louvado seja o nome do Senhor por todos os que dão testemunho de Cristo no mundo, sinalizando o Reino de Deus com tal disposição! Porém – infelizmente existe um “porém” –, nem sempre é assim. Segundo o salmista, feliz é a pessoa que se interessa pelo pobre, desamparado, enfermo, desafortunado, necessitado. Trata-se de alguém que desfrutará em sua vida de livramento, proteção e sustento do Pai.

Em outras palavras, quem vive com essa disposição no coração vive bem. Vive uma boa vida. Desfruta de bons sentimentos. É menos aborrecido com a existência. São pessoas resistentes para vida. Há paz nesse caminho. Do contrário, a experiência da vida é a experiência de quem não vive a sua, mas se intromete na dos outros. Invade, palpita, toca com malícia o sentimento alheio de quem está em estado de luto e dor. Ao invés de trazer alívio, de se sensibilizar e se compadecer, espiritualiza de forma leviana, fornecendo os motivos “espirituais” da dor do sofredor: “deve ter pecado”. Momento difícil para quem sofre é ser abandonado até pelos próprios “amigos” e ter neles o endosso de falas violentas dos que espalham mentiras e calúnias. A solidão é muitas vezes a casa de quem sofre. Mas – que bom que existe um “mas”! –, se você é o que sofre, tenha certeza: o Eterno está contigo e não se esqueceu de você, mesmo se os mais chegados te abandonaram.

Se você não é o que sofre, tenha certeza também: o caminho da espiritualidade bíblica não é o caminho de um juiz leviano e insensível, mas de alguém que desfruta da experiência da sensibilidade pelo que sofre. Na dor alheia, devemos nos interessar genuinamente pelo sofredor. Não fofocamos, não caluniamos, não mentimos. Tão somente nos importamos. Esse caminho traz vida e paz com Deus. O outro, certamente trará tristeza. Sejamos, pois, felizes, tornando-nos sinal de misericórdia e consolo para os que padecem as enfermidades da vida.