Dia: 2 de fevereiro de 2020

A experiência da perseverança no Senhor

Meditações no Salmo 44

O grande desafio do seguidor e da seguidora de Jesus não está relacionado, prioritariamente, em proclamar doutrinas acerca de Deus em um dado momento da vida. Quem segue a Jesus tem como grande desafio perseverar no caminho até o fim. Em outras palavras, nossa caminhada é mais importante do que um momento específico. Certamente seria mais fácil pensar e resumir a vida com Cristo em uma data e hora, assim, tudo estaria resolvido acerca da nossa espiritualidade. Não é essa a chamada de Deus para os seus seguidores. Somos chamados para perseverar no caminho (Mt 10:22; 24:13; Mc 13:13). A experiência da perseverança no Senhor é mais complexa pelo fato de envolver toda nossa trajetória com Deus. Em um momento específico de emoção, quebrantamento e rendição conseguimos proteger nossa devoção ao Pai com maior segurança, menos questionamentos e menos complexidades.

Em uma vida com muitos anos de caminhada, ao contrário, vivemos experiências complexas, decepções, oscilações emocionais, dores e sentimentos diversos, em que perseverar na fé é um desafio. Na vida existem altos e baixos. Momentos de segurança e insegurança. Momentos de paz e guerra. Felicidade e tristeza. Somos um turbilhão de emoções e complexidades que não damos conta de entender. Como experimentar a experiência da perseverança no Senhor? O salmista parece relatar esse choque de emoções e a sua experiência pode nos ajudar em nossa peregrinação. Em primeiro lugar quem ora reconhece que Iavé se revela na história. O Eu Sou não é um mero conceito. O Eterno se revelou no dia-a-dia de homens e mulheres, que puderam conhece-lo. Não é só meu Deus, mas o Deus dos nossos pais, avós, amigos, conhecidos. Temos segurança de que o Altíssimo se manifestou para os nossos antepassados e também para nós, em dado momento da nossa trajetória. Cada toque da graça de Deus na história é uma bandeira que devemos fincar em nossos corações, para sempre nos lembrarmos que Ele veio ao nosso encontro, cheio de Sua misericórdia. Essa convicção ajuda em nossos momentos de crise de fé. Em segundo lugar, o salmista é sincero sobre o momento ao qual enfrenta. Ele fala com toda sua honestidade. Sente-se abandonado, esquecido e desprezado por Deus. A visão dos judeus desta época é que tanto o bem como o mal vinham de Deus. Ele não hesita em questionar seu Senhor. Mesmo diante dos questionamentos Ele persevera em se voltar ao seu Rei e seu Deus.

Por fim, o salmista não cessa de esperar nEle. Mesmo inserido em um momento delicado em sua caminhada, persevera em esperar nEle, pois confia que somente Ele pode socorre-lo de forma plena, trazendo alento a sua dor e ao seu sofrimento momentâneo. Somos convidados não somente para crer em Deus, mas a perseverar em um relacionamento real com Ele. A caminhada tem seus desafios, mas devemos, como o salmista, nos lembrar de quem Ele é e faz, nos mantermos sinceros em nossas preces e confiar que somente nEle teremos satisfação plena para nossa alma.

A experiência do abrigo na fortaleza

Meditações no Salmo 43

Somos seres pequenos e limitados. Mesmo com dinheiro e poder em mãos o homem se depara com situações em que sua impotência exala de maneira cristalina. Não somos capazes de gerenciar muitos aspectos da vida. Não controlamos as enfermidades – dirá os antídotos! –, os sentimentos alheios – às vezes nem os nossos! – e muitas facetas do nosso amanhã são absolutamente imprevisíveis. Um grande problema da espiritualidade desenvolvida nos círculos cristãos é que os seguidores de Jesus tem como fundamento de sua fé elementos frágeis e que não dão respaldo e tão pouco pavimentam a longa estrada da vida espiritual. A família é muitas vezes um desses fundamentos. Entretanto, por mais importante e sagrada que ela seja, os laços familiares não são fortes o suficientes para serem fundamento da nossa fé. Não conseguimos gerenciá-los em definitivo: está fora do nosso controle. O que fazer quando se é traído pelo cônjuge?

Como vivenciar a experiência de um filho ou filha que não honra pai e mãe? Como superar problemas familiares graves, como a morte prematura ou sofrida de entes queridos? Se a família é fundamento da nossa fé e da nossa espiritualidade, perdemos o chão existencial da nossa vida. A crise mais severa se instala. A profissão também é um exemplo de fundamento inadequado. Quem garante que não haverá um corte na empresa em que atuamos? Quem garante que seremos sempre aptos para nossa função? Se fizermos da nossa carreira profissional – se aplica também para ministros religiosos! – a fundamentação da nossa espiritualidade, o risco de perdermos o rumo da vida é possível. Assim valeria para nossos relacionamentos, cheios de histórias de traições, mentiras e calúnias; a saúde, completamente além das nossas condições gerenciais; o dinheiro, cujo maior risco é torna-se dono do coração humano. O salmista parece ter percebido que o único abrigo seguro, a fortaleza da sua fé e espiritualidade, é o Eterno. Caso contrário, a alma sempre correrá o risco de adentrar uma tristeza profunda. Somente nEle temos garantida a alegria plena do nosso interior.

A esperança depositada no Altíssimo é fundamento seguro e certo para construirmos uma jornada consistente, embora certamente problemas e variáveis indesejadas são mais do que esperadas: são certas. Tendo o Senhor como rocha (Mateus 7:24-29; Lucas 6:46-49), podemos viver a experiência do abrigo na fortaleza. Como o salmista bem diz, Ele é juiz, luz, verdade, fonte plena de alegria, razão de canções de louvor, esperança e Salvador. Só Ele está nessas categorias. Certamente as demais áreas da nossa vida serão irrigadas na sabedoria do nosso Deus. Entretanto, é Ele quem nos dá segurança para um andar seguro e estável em nossa jornada espiritual.