Mês: maio 2022

A experiência da Lei da vida

Pensar acerca do sentido e significado da “Lei” soa muito mal quando nos compreendemos no evangelho da graça de Cristo Jesus. Entretanto, a partir de Jesus, temos condição de observar com clareza aquilo que o salmista já tinha percebido: que o espírito da Lei da vida nos livra do peso da própria lei (Rm 8.2).

Essa libertação abre espaço para uma sabedoria da vida, acenando para uma plenitude da existência. A experiência da Lei da vida nos faz contemplar o padrão de Deus, especificamente o padrão do seu coração terno e amoroso. Essa experiência abre os nossos olhos para a Lei como sabedoria que enche o coração humano de potência para a Vida! A Palavra cheia de conselhos prazerosos pode, assim, adentrar a alma humana. Em meio as nossas instabilidades e medos, somos inundados por restauração, mudança no prumo da jornada. As instabilidades são vencidas, pois no Eterno temos amor e saborosos conselhos. As promessas do Altíssimo rejuvenescem a alma. A sua revelação é um bálsamo que cura o interior. Em sua Palavra somos satisfeitos por um amor que é derramado em toda a terra. Somos tomados de bom senso por parte daquele que é fonte do Bem. Somos abraçados e envolvidos, mergulhados e encantados, curiosos e atraídos pela sua Lei da Vida!

Naquele que ama a sua Lei não falta esperança, renovo e prontidão. Como um vigia se atenta aos inimigos, tua Palavra me faz vigiar as feiuras que tentam roubar a beleza de viver. Nada roubará a confiança do que ama a Lei da Vida para o Senhor! Ele se revelou em amor, sem erro. É um mar de discernimento e entendimento para a caminhada. Luz em meio as trevas. Luz que ofusca o engano. Luz de sabedoria que nos torna sábios. Meditar no Livro é meditar na Vida, pois o Livro é Livro da Vida. Meditação que é refúgio silencioso em sua Palavra. É como encontrar joias de ouro. É amor e paixão por suas Leis. Sua sabedoria transforma cada estrada da existência em caminho de amor, justiça e alegria: é vida plena e abundante. Suas Palavras duram para sempre, são confiáveis. Essa sabedoria faz brotar graça e misericórdia. Não tem como não ficar extasiado, maravilhado, emudecido depois de apreciar a Sua sabedoria. A percepção da Sua voz nos dá prazer, doçura. Como é bom viver a experiência da Lei da vida. Faltam palavras para expressar e descrever…

A experiência do maravilhamento

“Quando a esmola é demais o santo desconfia”, diz o ditado popular. Ou: “é bom demais para ser verdade”. Quando esse tipo de frase é mencionada no cotidiano, normalmente está se falando sobre algum benefício financeiro ou algum ato inesperado de bondade de outrem. A resposta natural é de surpresa e espanto frente ao inacreditável. Como algum me beneficiaria gratuitamente? Após o espanto surge a suspeita e a desconfiança. Ora, existe algo que provavelmente não está sendo percebido frente a graça concedida. Deve existir, pensaríamos, algo nas entrelinhas, ou em letras miúdas, que não estou sendo capaz de enxergar. “Devem estar me enganando”; “é uma pegadinha”. O salmista experimenta essa sensação, mas em relação a Deus. Ao deparar-se com o amor divino ele vive a experiência do maravilhamento.

Fica encantado, em êxtase, embriago do amor do Eterno por sua vida. Em dado momento do salmo ele diz: “é algo maravilhoso para nós” (NVI). Na bíblia A Mensagem, a paráfrase afirma: “Nós esfregamos os olhos, custando a crer nisso!” Muitos desconfiam da graça e da misericórdia divina. Muitos desconfiam do amor de Deus. De certa forma é compreensível, pois em nossas relações humanas estamos habituados a muita desconfiança daqueles que nos ajudam sem esperar nada em troca. Toda essa bagagem humana nos coloca em uma relação com Deus também desconfiada.

Entretanto, há uma diferença. O amor de Deus não falha! O amor de Deus é perfeito. O amor de Deus é constante. A qualidade da bondade divina é diferente da bondade humana, muitas vezes disfarçada em hipocrisias e interesses egoístas. “O amor de Deus dura para sempre!” Quando a sua graça amorosa é derramada no humano e nos abrimos ao Seu amor, não há desconfiança, é puro maravilhamento. Queremos contar para todos que Deus é bom! Queremos cantar que fomos ouvidos e amados. Que gritar que somos aceitos e livres da morte no Altíssimo. Que possamos nos maravilhar com seu amor e viver essa experiência de não ter lugar melhor que a segurança e cuidado amorosos do Senhor. 

A experiência de amar

Quem ama ou está apaixonado não precisa fornecer muita justificativa dos seus sentimentos. Amor e paixão não estão no campo da razão, mas da emoção. Quem ama está mais para poetas que recitam versos que vêm da alma do que para cientistas que tentam explicar a lei da gravidade em artigos científicos. O salmista começa sua poesia falando do seu amor pelo Eterno. Muito embora use da linguagem para expressar os seus sentimentos, suas palavras revelam que a lógica não dá conta de entendermos esse amor que ele sente. Ele nos conta de  momentos de sua vida bastante complicados. A morte o envolveu. As angústias o atingiram. Ele ficou sem forças. Ele chorou. Ele esteve aflito e em pânico. Quem diante dessas lutas tem tempo para amar? Quem diante da morte sente-se como que apaixonado? Não tem lógica. Não tem razão.

O salmista nos conta de sua devoção pelo Senhor justamente em momentos delicados e difíceis. Ele vive a experiência de amar em meio aos abismos das aflições da existência, pois é justamente ali em que ele encontra o afago do seu Deus. Deus o escuta. Deus o protege. Deus o livra da morte. Deus está com ele na dor. Deus o salva em sua impotência e pequenez. O conflito dentro de quem experimenta essa realidade é tamanho: como poderia o sofredor estar amando Deus em meio a sua luta? A solução do conflito está no fato do salmista gritar com a sua própria alma para que ela se dê conta que foi resgatada e acolhida no oceano infinito de amor do Altíssimo. O bálsamo de esperança que esse amor gera é visível, fazendo brotar forças no salmista para ele manifestar a sua gratidão aquele cujo seu amor é devotado.

A experiência de amar não tem lógica e tão pouco circunstância. Quem ama, quem se apaixona, se entrega e sacia a própria alma nessa sensação e na presença do seu Amado. Qual a razão do seu amor por Deus? Precisa de uma? Que possamos vivenciar esse amor corajoso, que diz para alma ficar quieta, quietinha, e tão somente se regozijar no encantamento dos apaixonados pelo Eterno.

A experiência do Deus vivo

O Deus que se revela nas Escrituras é um Deus para além do nosso conceito de Deus. Ele nunca poderá ser captado em sua totalidade. Nunca poderemos dar conta de quem Ele é em sua plenitude. Ele sempre vai escapar-nos. Ele sempre permanecerá mistério, muito embora se revele para a humanidade. Essa percepção acerca de quem Ele é, é fundamental para compreender a sua grandeza, inefabilidade e transcendência. Simultaneamente – ou dialeticamente – sua revelação, manifestação ou aparição se torna ainda mais especial, única e singular.

Viver a experiência do Deus vivo, que significa a experiência de um Deus indomesticável, não gerenciável e incontrolável em seu querer, é experimentar uma proteção, um cuidado, uma companhia, um amor, uma graça e uma misericórdia cujas palavras nunca darão conta da verdade e realidade desses conceitos. É vivenciar a pureza e grandiosidade do Mistério que deliberadamente deseja vir ao nosso encontro. É estar envolvido em um mistério amoroso. É estar casado com um noivo que ama a noiva com uma paixão eterna. É estar banhado em águas límpidas. O fiel que experimentou esse amor é um fiel que não se abala com os questionamentos dos questionadores e seus argumentos tolos. Por quê?

Por saber que Deus não é um ídolo e que tão pouco os que se curvam diante do Mistério tentam controlar o ímpeto amoroso do Eterno. Assim, aqueles que questionam Deus o fazem em nome de ídolos inexpressivos, de ideias que suas próprias mentes criaram. Somente quem está diante daquele cujo nome não dá conta do seu Ser, pode confiar em um cuidado e amparo certo e seguro. A benção de Deus está sobre aqueles que não ousam definir Deus, mas tão somente silenciar e contemplar a sua majestade, grandeza e senhorio, expressos em metáforas que nunca darão conta do Deus vivo!