A experiência da sabedoria e da covardia


A experiência humana é uma experiência que produz em nós ansiedade. Essa ansiedade é fruto da nossa própria condição. Somos seres éticos. Sabemos discernir certo de errado e às vezes precisamos escolher entre o certo e o certo. Somos também capazes de ansiar o futuro, de pensar e imaginar a eternidade e, simultaneamente, sabermos da nossa finitude, que um dia morreremos. Somos capazes de antecipar situações complicadas à frente, que despertam em nós inquietações e angústias frente à existência. Todas essas tensões e paradoxos da nossa alma nos tornam pessoas complexas, em especial no aspecto emocional.

O salmista se descreve em uma situação complicada. Vive em meio aos mentirosos. Muitos a sua volta são maus e perversos. São pessoas que gostam da violência e de fazer guerra. Em contrapartida o salmista é da paz e, por ele, a promoveria sem reservas. Entretanto, expõe a sua angústia: anunciar a paz para essas pessoas seria declarar guerra e, consequentemente, a violência, inclusive a si mesmo e aos seus. O que fazer? Defender a sua posição pacífica abertamente, anunciando as consequências da maldade dos perversos, colhendo uma guerra declarada; ou, se limitar a orar a Deus, pedir por livramento, e sofrer as consequências em sua consciência do silenciamento diante da maldade? A vida humana nos propõe desafios como esse. Existem situações que parecem que dois caminhos sãos certos e não sabemos qual deles escolher. Existem situações em que vislumbramos à nossa frente possibilidades que nos inquietam no presente e somos paralisados diante de dilemas reais e genuínos. O que fazer? Qual caminho seguir?

Estamos sendo sábios em nossa decisão? Ou estaremos sendo covardes diante do que está posto diante de nós? Não há uma resposta para a experiência da sabedoria e da covardia. Certo é que cada indivíduo terá de lidar com as situações que a vida impõe. O diferencial do salmista e que pode ser um caminho de sabedoria espiritual para nós, é a possibilidade de recorrer ao Eterno em oração, rasgando o nosso coração, pedindo por livramento e discernimento. Temos acesso a um Deus que nos permite uma abertura completa daquilo que nos inquieta na alma, seja a dúvida da decisão ou o lidar com as consequências da escolha feita. Também temos nEle a convicção de uma justiça plena, como flechas afiadas e brasas ardentes, que nos conscientizam da nossa humanidade e limitação. A justiça e o pesar dos corações humanos é tarefa do Altíssimo. Assim, que possamos com coragem caminhar nos dilemas que a vida humana nos coloca, sabendo nos colocar na corda bamba que separa a sabedoria da covardia.