Igreja Batista em Quitaúna

A experiência da graça como justiça

Meditações no Salmo 146

Há quem diga que amigo verdadeiro se conta na palma de uma mão. À luz da experiência cotidiana não parece equivocada essa afirmação. Lealdade e confiança são virtudes preciosas e mesmo nas pessoas que mais acreditamos serem leais, pode existir falha de caráter. O salmista sabiamente faz um alerta cheio de sabedoria: não depositar nossa confiança nos humanos, especialmente os poderosos. Quem confia em homens poderosos está fadado a viver sob um solo movediço, cheio de incertezas e dúvidas acerca da lealdade deles para conosco, “meros mortais”. Viver uma vida confiando em absoluto em um político, em um nobre, em alguém famoso ou mesmo em uma pessoa próxima a nós é um erro, pois depositaremos nesse indivíduo tudo o que nos dá sentido, lhe entregando praticamente a nossa alma.

Em alguma medida essa “confiança cega” é fazer do humano em quem confiamos um “deus”. O salmista vai em sentido oposto, nos instigando a confiar no Eterno, pois nEle encontraremos um solo seguro para ser o guarda do nosso coração. Não é à toa que o salmista nos incentiva a adorar ao Altíssimo, pois nEle existe uma santidade perfeita, sem hipocrisia e que não está sujeita as oscilações de integridade que vemos nos humanos. Nele, no Criador, podemos confiar. Entretanto, esse pensamento cético em relação aos humanos não pode se tornar um pessimismo em relação ao progresso da humanidade. Em chave bíblico-teológica e cristã, podemos entender que Deus está pessoalmente comprometido com o melhor para os humanos. Assim, o salmista pode nos fazer pensar na experiência da graça como justiça. Embora não seja sábio confiar que o humano pela força do próprio humano irá ser leal e justo em suas decisões, tomando partido dos fracos, injustiçados, famintos, cegos e abatidos, certo é que o Senhor o fará! Tendo em mente que o Deus que dá testemunho nas Escrituras é aquele que, em sua santa justiça, advoga em favor do pobre, órfão, viúva e estrangeiro, podemos ler esse cuidado do Alto como graça divina. Uma vez sendo graça, desviamos a confiança dos humanos para o Deus que está comprometido com esse projeto histórico e concreto de transformação social. Mesmo em nossas falhas humanas, Ele se encarregará sempre de permanecer atuando em favor das vítimas desse mundo, pois sua justiça é graça.

Portanto, se podemos olhar para a nossa dura realidade e ainda assim esperançar, é porque a graça como justiça nos possibilita isso. Se podemos nos juntar a Ele nesse projeto do Reino, é graça dEle sobre nós. Louve e adore ao Eterno, pois Ele é bom e comprometido com o projeto de justiça aqui e agora, enfrentando os “Faraós” desse mundo em favor dos oprimidos.

Pr. André Anéas