Meditações no Salmo 42

Encarar a vida de frente não é tarefa fácil. Sentimos na caminhada o gosto de coisas que parecem que não deveriam estar por aqui. O gosto do luto. O gosto da tristeza. O gosto da decepção. O gosto do fracasso. E tantos outros gostos que não são palatáveis. Nossa alma corre sempre o risco de se encontrar abatida, deprimida e melancólica. Ao menos para quem tem o mínimo de sensibilidade diante das dores da existência, é nítido que em nossa trajetória sobram marcas interiores pelos acontecimentos e sentimentos aos quais somos submetidos.

Muitas lágrimas são derrubadas. Que resta para nós, meros humanos angustiados pela existência? Para onde iremos? Poderíamos nos entregar ao hedonismo e satisfazer todos os nossos apetites e vontades. Entretanto, como disse o sábio, “tudo é vaidade de vaidades”, e essa entrega aos prazeres não satisfaria em plenitude nossa alma tão angustiada. Poderíamos quem sabe nos entregar à uma vida sem sentido, nos rendendo ao caos. Mas o que faremos com a sensação que habita constantemente nosso coração acerca de um “algo mais” relacionado a vida? O salmista parece ter uma ânsia dentro de si. Não consegue conceber que os seus dilemas interiores são quem determinam sua esperança. Nem se entrega às paixões, nem rompe com o sentido último da vida. Por quê? Porque anseia por Deus. Tudo o que enfrenta de doloroso na vida – lágrimas, tristeza, sofrimento, agonia – o leva para uma certeza: somente o Senhor pode suprir o que me falta. O abatimento da alma do salmista é tensionado com a sua sede por Deus. Rubem Alves disse que a “saudade é a nossa alma dizendo para onde ela quer voltar”.

Quem ora aqui está com saudade do Pastor, pois diante das dificuldades a alma quer voltar para aquele em quem existe plenitude. Não é a toa que quem ora relembra momentos em que esteve perto do Eterno, na casa de Deus. Saudade do Mistério, do Infinito, do Altíssimo, do provedor de sentido definitivo de uma vida marcada pela dor. A alma anseia pela Presença. A alma deseja a proximidade com aquele que É. Em meio ao turbilhão de emoções da vida, nossa alma anseia, deseja e espera por Deus. Deixemos a nossa alma ter sua saudade suprida pelo amor constante do Senhor. A experiência da saudade de Deus acontece somente com quem sabe que há algo de errado com esse mundo. Essa experiência acontece somente com quem põe toda sua esperança naquele que é seu Deus, e o deseja mais que tudo, pois só nEle há o refrigério que torna a vida verdadeiramente bela.

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