Meditações no Salmo 40
Vivemos em tempos de imediatismo. Não gostamos de esperar. Somos impacientes. Especialmente quem vive nas cidades está desconectado da espera necessária para que as sementes deem seus frutos e as plantas suas folhas e flores. Afinal, é só ir em algum mercado 24h para obter tudo o que se deseja, de forma fast food. Dentro da comunidade de Jesus dos nossos dias, esse mesmo espírito de época prevalece. As relações que os religiosos tentam construir com Deus são tomadas pelo imediatismo. As orações que “determinam” que as doenças cessem, que os problemas acabem e que a prosperidade aconteça de maneira imediata – e quase mágica – adentraram, inclusive, em comunidades históricas que, tradicionalmente, foram mais rigorosas na interpretação da fé cristã à luz das Escrituras.
A realidade, que pode ser comprovada pela observação honesta – não se supera um processo depressivo, consegue um emprego e retoma a carreira ou resolve um problema de relacionamento “determinando” algo para Deus –, é que experimentamos em nosso relacionamento com o Eterno a experiência do já, mas ainda não. A espiritualidade bíblica, atestada na experiência de homens e mulheres de Deus nas Escrituras, mostra a possibilidade de termos nossa esperança no Senhor saciada aqui na terra (já). Diante da nossa fragilidade em relação a vida, com toda sua complexidade, dificuldades, medos e situações desesperadoras, podemos esperar no Altíssimo! É real, é possível e existem testemunhos seguros de que o Pai intervém em relação aos seus filhos. O salmista sinaliza esse fato em sua oração. Deus olha para ele, respondendo ao seu clamor, seu pedido de socorro. Mais do que atenção, existe intervenção. O Senhor tira o salmista do fundo da lema em que se encontrava.
A ação de Deus muda a disposição existencial de quem ora, pois quem ora, embora não tenha seus problemas completamente solucionados, é capaz de agora cantar uma canção ao Libertador. O salmista chega a declarar que “feliz é aquele que deposita sua confiança em Javé” e consegue perceber que a espiritualidade que Deus espera da humanidade não está vinculada aos atos litúrgicos e cerimoniais (sacrifícios, ofertas e holocaustos), mas sim em realizar a vontade dEle na vida. Porém, o salmista não desfruta da plenitude deste relacionamento com o Senhor. É alguém em caminhada, em processo (ainda não). Nesse sentido, é alguém que espera com esperança, que ora, que clama, que se humilha, que pede por mais misericórdia e proteção. A espiritualidade bíblica não é apreciada de maneira imediata. Dura a vida.
Experimentamos muito do Deus que se deixa conhecer, mas continuamos esperando que Ele não demore em nos socorrer plenamente. Assim, permanecemos em jornada, com paciência e sempre esperando nEle. Que nossa atitude seja de humildade, dependência e de gente carente e necessitada, que reconhece o paradoxo do já, mas ainda não, sem cessar de esperançar.