Quem ama ou está apaixonado não precisa fornecer muita justificativa dos seus sentimentos. Amor e paixão não estão no campo da razão, mas da emoção. Quem ama está mais para poetas que recitam versos que vêm da alma do que para cientistas que tentam explicar a lei da gravidade em artigos científicos. O salmista começa sua poesia falando do seu amor pelo Eterno. Muito embora use da linguagem para expressar os seus sentimentos, suas palavras revelam que a lógica não dá conta de entendermos esse amor que ele sente. Ele nos conta de momentos de sua vida bastante complicados. A morte o envolveu. As angústias o atingiram. Ele ficou sem forças. Ele chorou. Ele esteve aflito e em pânico. Quem diante dessas lutas tem tempo para amar? Quem diante da morte sente-se como que apaixonado? Não tem lógica. Não tem razão.
O salmista nos conta de sua devoção pelo Senhor justamente em momentos delicados e difíceis. Ele vive a experiência de amar em meio aos abismos das aflições da existência, pois é justamente ali em que ele encontra o afago do seu Deus. Deus o escuta. Deus o protege. Deus o livra da morte. Deus está com ele na dor. Deus o salva em sua impotência e pequenez. O conflito dentro de quem experimenta essa realidade é tamanho: como poderia o sofredor estar amando Deus em meio a sua luta? A solução do conflito está no fato do salmista gritar com a sua própria alma para que ela se dê conta que foi resgatada e acolhida no oceano infinito de amor do Altíssimo. O bálsamo de esperança que esse amor gera é visível, fazendo brotar forças no salmista para ele manifestar a sua gratidão aquele cujo seu amor é devotado.
A experiência de amar não tem lógica e tão pouco circunstância. Quem ama, quem se apaixona, se entrega e sacia a própria alma nessa sensação e na presença do seu Amado. Qual a razão do seu amor por Deus? Precisa de uma? Que possamos vivenciar esse amor corajoso, que diz para alma ficar quieta, quietinha, e tão somente se regozijar no encantamento dos apaixonados pelo Eterno.