Pr. André Anéas

A experiência de ser instrumento do Senhor

Meditações no Salmo 45

Muitos cristãos querem ser “usados” por Deus. O ser “usado” faz parte do vocabulário de muitos que convivem cotidianamente dentro das igrejas locais. Usado para tocar um instrumento musical, usado para pregar a palavra, usado para dar aula, etc. O que significa ser um instrumento da parte de Deus nesta terra? Ou melhor, quando somos um instrumento do Altíssimo? Não parece que ações religiosa exteriores são decisivas para tornarmo-nos instrumentos nas mãos de Deus. Existe algo bem mais profundo sinalizado no salmo. O salmista fala acerca do rei. Um rei, em sentido amplo, é alguém dotado de muito poder, glória e respeito da parte de todos. O rei descrito no salmo, porém, não é um rei qualquer. Trata-se de um rei que espontaneamente produz no coração do salmista o desejo de recitar lindas palavras em honra a sua majestade, uma vez que não é um rei comum: é um rei abençoado. O instrumento de Deus – o rei – é alguém agraciado pelo Senhor.

A graça de Deus está sob ele, ungindo seus lábios. O toque do Todo-Poderoso foi sobre seu instrumento humano. Assim, em primeiro lugar, aquele que deseja ser instrumento nas mãos de Deus, precisa ser tocado pela graça. Não se trata de “forçar a barra” para ser usado ou ser movido por conta própria visando auto-promoção. Não. Trata-se de ser conduzido pelas mãos do Pai. Uma vez agraciado, o instrumento de Deus é movido pelos valores daquEle que agracia. Quais seriam esses valores? Verdade, misericórdia e justiça. Diferente do senso comum, que diz que ser instrumento de Deus significa ter um envolvimento ativo nas atividades religiosas de uma igreja local, o salmista destaca que o coração do rei está em conformidade com o coração do Eterno. Estar comprometido com a verdade, agir com misericórdia e amar a justiça (no sentido do profetismo dos profetas hebreus – a causa do pobre, do órfão e da viúva) são determinante para que o instrumento seja de Deus e não um ativista religioso. O rei que é valorizado na poesia hebraica por sua conformidade com a vontade do Senhor também encontra alegria! Sim, fazer a vontade de Deus resulta em festa, regozijo e prosperidade (vida plena).

Por fim, o rei é alguém amado por sua noiva, pois é um instrumento de Deus íntegro. Viver a experiência de ser instrumento de Deus traz àquele que é “usado” o reconhecimento público de quem é instrumento das bençãos celestes (do salmista, da noiva, da corte). Ser um vaso nas mãos do oleiro é ser reconhecido como sinal da graça de Deus no mundo. Sejamos, pois, instrumentos do Senhor, pois a terra carece de pessoas com o coração de Jesus, o Rei dos reis, o grande sinal de Deus na história! Pessoas que, mais do que exteriormente, seja usadas para “iluminar” a terra e “salgar” a existência (Mateus 5).

Todos Nós Temos Uma Missão

Existem alguns conceitos muito simples. E, por mais simples que sejam, existe um porquê, uma explicação, uma razão de ser por detrás destes conceitos. E é por esta explicação que vou começar.

Você já parou para pensar qual a razão de você vir para igreja domingo após domingo? Você já parou para pensar quais são suas responsabilidades como alguém que se intitula cristão? Em algum momento você se deu conta do tempo que investe vindo às atividades da igreja local? São perguntas importantes de serem respondidas, principalmente nos tempos em que vivemos.

É comum hoje em dia que os cristãos entendam que seu papel dentro da igreja é o de vir até a igreja (aqui templo), deixar seus filhos na Escola Dominical, ouvir uma pregação, se encontrar com os irmãos desfrutando de comunhão, em alguns casos até sair para comer algo após as reuniões, e voltar para a semana para viver normalmente suas vidas.

Durante a semana muitos vão trabalhar, vão cozinhar, vão se encontrar com os amigos, vão ter algum tempo de lazer, passar tempo com a família e ter um tempo de descanso da semana que é corrida. E, no domingo seguinte, todos estão novamente na igreja para deixar seus filhos na Escola Dominical, ouvir uma pregação, se encontrar com os irmãos desfrutando de comunhão.

Quem vive nesta realidade pode até ser intitulado de um “crente comum”, com sua rotina semanal e sua rotina dominical. Afinal de conta, não é um pastor ou missionário, os quais não são “comuns” como os crentes comuns.

Talvez este “crente comum” pense que ser cristão é isto. Viver a vida normalmente e buscar a benção de Deus sendo alguém que frequenta a igreja, leva os filhos na Escola Dominical, tem comunhão com os irmãos. Além disso, espera-se que a palavra pregada no domingo seja uma palavra abençoada para sua vida, para sua família e para sua semana. É possível que o “crente comum” pense que o pastor deve passar a semana preparando o sermão do domingo somente com a intenção dele – o “crente comum” – ouvir e ser mais uma vez abençoado por uma mensagem que lhe dará a força necessária para mais uma semana, uma mensagem que lhe faça bem e lhe de paz. Quem sabe a expectativa é também da mensagem o ajudar a se relacionar melhor, pois isto traria muitos benefícios no trabalho e em casa. Ou seja, ser beneficiado de “n” formas…

E quanto a divulgação do evangelho do Senhor Jesus? Para o “crente comum” é muito simples, existem missionários para isto. Existem conferências missionárias nas quais os “crentes comuns” podem participar para entender como funciona a vida do missionário no campo. Os “crentes comuns” sabem que seu papel é o de somente contribuir, afinal, eles não tem este “chamado”.

Outro ponto importante na vida do “crente comum” é que ele sempre que convida um amigo ou parente para ir a igreja sempre espera que este convidado aceite a Jesus no sermão daquela noite. Afinal de contas, o pastor deve estar preparado para anunciar o evangelho, pois este é o seu “chamado”. O “crente comum” compreende que o fato dele somente levar alguém à igreja já cumpre seu papel dentro da igreja.

O que dizer então de uma vida de oração diária? De uma vida dedicada à leitura bíblica? De uma vida consagrada ao Senhor Jesus? Para o “crente comum” esta coisas são importantes. Porém, existem pessoas não tão comuns, como missionários e pastores, que tem a obrigação de terem uma vida de oração, de leitura bíblica e uma vida consagrada ao Senhor. Estes mesmos missionários e pastores são também os responsáveis por anunciar em seu dia-a-dia a mensagem do evangelho, pois são “chamados” por Jesus para isto!

Quem é você no reino de Deus, em Sua Igreja? Um “crente comum”? Se sim, ao saber o texto que irei expor você poderá logo pensar que trata-se de um estudo digno de uma conferência missionária e não de um “domingo” qualquer. Porém, peço sua paciência para chegarmos juntos a uma ideia muito simples.