Meditações no Salmo 141
A experiência da oração é uma experiência sagrada. Ela não deve ser pervertida. Ela não deve ser reduzida. Ela não pode ser banalizada. O salmista parece entender a importância do “clamor”, da “súplica”, do “falar” com Deus. Existem alguns elementos que compõe essa experiência e que podem servir de baliza para pensarmos a qualidade dessa prática espiritual milenar. Primeiramente há uma expectativa da parte daquele que ora ao Senhor. Quem se coloca a falar com o Altíssimo aguarda que Ele saia do alto e venha para baixo. Ninguém ora não esperando nada da parte de Deus. Muito pelo contrário, quem ora anseia pela presença de Deus no hoje da história. Essa descida de Deus ansiada pelo orante não é meramente geográfica, mas envolve a atenção por parte dEle. Esse segundo elemento exige fé de que Deus não somente se aproxima, mas o faz de modo atencioso à voz de quem se expressa ao Mistério. Essa fé move quem ora a falar como quem fala com uma pessoa, literalmente. Assim, Deus não é uma espécie de energia, mas um alguém que me escuta atentamente. Em terceiro lugar, quem ora o faz de modo que suas palavras expressadas diante do Senhor sejam dignas. Ou seja, há um esforço reflexivo para que aquilo que está sendo dito agrade a Deus. Quem ora sabe da possibilidade de orações indignas, perversas, mal-intencionadas e que não agradam a Deus. Quem está diante de Deus aqui, sabendo dessa possibilidade, revela seu desejo de não distorcer essa disciplina espiritual. Por isso mesmo que o orante pede para que Deus proteja a sua boca, pois sabe que dela pode brotar a maldade. Justamente por isso o quinto elemento envolve esse olhar para si. A oração não deve ser utilizada como uma oportunidade de manifestação da maldade direcionada ao outro.
A oração é justamente o momento de nos ouvirmos e encontrar a sabedoria do alto para proteger os nossos lábios daquilo que pode perverter o nosso coração. O salmista, mesmo identificando os outros, está preocupado consigo mesmo, pois tem medo de sucumbir diante da tentação da maldade. Ele está em questão diante de Deus, não os demais humanos. Ele está preocupado com as armadilhas que ele mesmo pode cair.
Na experiência da oração temos a oportunidade sagrada de sermos quem somos em nossas fragilidades e contar com a ajuda do Eterno para nos proteger de nós mesmos. A experiência de oração não é para gente perfeita, cujos olhos estão sempre prontos para desferir olhares julgadores aos outros. A experiência da oração é lugar de busca por uma santificação de quem reconhece o real perigo da tentação. Orar é, portanto, mergulhar no próprio eu orientado e conduzido pela presença real de quem tudo vê e de quem escuta atencioso e amorosamente um rasgar de coração sincero e humilde.
Pr. André Anéas