Meditações no Salmo 140

Normalmente a opressão é atribuída a inúmeras sensações horríveis causadas por demônios. O salmista, entretanto, clama a Deus por livramento de um tipo de opressão que é causada por humanos. Às vezes, humanos podem oprimir mais que os demônios, nos conduzindo para uma experiência de oração intensa devido as sensações e tormentos terríveis que gente má causa em nós. Independente do contexto – trabalho, casa ou igreja – a atmosfera opressiva contra as nossas vidas pode ser configurada. Não temos nenhuma evidência explícita, mas sabemos em nossa alma que alguém trama contra nós. Esse é o sentimos de quem ora aqui.

O orante sabe que ímpios estão agindo para derrubá-lo. Trata-se de gente violenta, cujos planos são perversos e adoram produzir guerras com suas atitudes e ações. Da língua dessas pessoas escorre veneno de víboras. É um falar mentiroso, que confunde, que planta a iniquidade, que alimenta o ódio, que instiga o que há de pior no humano. É venenoso justamente por ser sorrateiro, maldosamente discreto, sempre agindo nas sombras contra os justos. O salmista ora por proteção, pois sabe que está vulnerável diante desses maldosos. O salmista sabe que armadilhas estão postas e muitas ciladas armadas para capturá-lo e destruí-lo. Nas sombras há uma expectativa imensa para que esse que ora ao Senhor seja destruído, para que caia, para que se dê mal em sua vida. O salmista não tem discernimento completo do evangelho de Jesus, por isso pede ao Altíssimo pelo sofrimento de seus perseguidores. Pede para que fogo caia sobre eles e que recebam o mesmo mal que tramam contra os outros. Em chave cristã, jamais caberia uma oração dessa nos lábios dos discípulos e discípulas de Jesus. Mas deve-se notar algo bonito no salmista: ele recorre a Deus e não faz vingança com as suas próprias mãos. Derrama sua prece diante daquele que pode salvá-lo, cuja justiça não falha e que tomará o partido do injustiçado.

Em sua experiência de opressão, se derrama na presença do Eterno por socorro e em plena confiança. Seja a perseguição sorrateira de um chefe no trabalho, a inveja velada de um familiar ou a maldade de um religioso arrogante e embebido em seus dogmas, certo é que quanto mais expostos estivermos, mais pessoas serão os demônios que poderão nos oprimir e tentar nos derrubar para que possam comemorar a nossa derrocada. Nessa atmosfera de opressão, nesse cheiro de perseguição, ao discernir a maldade que emana das almas obscuras dos perversos – maldade até de gente “boa” –, que o Pai seja a nossa rocha forte a nos proteger e nos ensinar a não nos intoxicarmos com os desejos de vingança.

Pr. André Anéas