Meditações no Salmo 138

Quem nós verdadeiramente somos?

A questão acerca da nossa identidade parece ser decisiva para o tipo de vida que teremos. As dificuldades em relação a quem verdadeiramente nós somos podem se desdobrar em vidas amarguradas, ressentidas, depressivas, abatidas e assim por diante. Do outro lado, vidas que têm sua identidade melhor resolvidas, desfrutam de um viver mais leve, autêntico, cheio de gratidão, cheio de paz.

O salmista ora como quem experimentou a experiência da identidade. Ser conhecido por Deus é um tipo de experiência que produz sentido para nós e forja a nossa identidade em um local profundo da alma. Nossa interioridade, ao experimentar o Eterno em nós, é transformada, ganha novo vigor, coragem para se viver, ou, podemos dizer, fé para existir de maneira profunda no mundo. Experimentar Deus é vivenciar a experiência de ser conhecido e, consequentemente, se conhecer. Como fazer essa experiência? O salmista sinaliza que a proximidade com Deus depende da nossa humildade. Quando desembarcamos dos nossos “eus” criados para performarmos diante das plateias é que nos tornamos aptos para experimentar Deus. A humildade é uma chave essencial para nutrirmos proximidade com o Senhor. Ao contrário, a arrogância, que nada mais é do que as máscaras que nos impedem de percebemos quem verdadeiramente somos, nos afastam daquele que sabe de tudo, até mesmo da nossa atuação que sabota nosso verdadeiro eu. A humildade é, assim, a via que nos conduz para aquele que vai nos aceitar em nossas fragilidades, sofrimentos e aflições, nos protegendo, acolhendo e amando como verdadeiramente estamos. Nesse contato imediato em amor do divino por nós, somos tomados por uma sincera gratidão, que permeia toda a nossa vida. Nossa vida, envolta no amor do Eterno, é uma explosão de agradecimento, pois nEle estamos satisfeitos e bem resolvidos, uma vez que sabemos e experimentamos que somos amados e amadas de Deus.

Nesse amor, concedido aos que se abrem ao Mistério em humildade, nada mais é necessário, tão somente a contemplação daquele que nos amou e nos tornou o que nascemos para verdadeiramente ser.

Pr. André Anéas