Meditações no Eclesiastes 2.4-9; 10-11

Difícil pensar a vida sem pensar a possibilidade de trabalhar e conquistar coisas. Nosso esforço é recompensado pelos projetos que sonhamos e que se materializam pelo nosso trabalho. Todos nós temos ambições, desejos, planos, sonhos a serem conquistados. O sábio afirma que pode ver seus projetos mais audaciosos concretizados. Tudo o que ele planejou e executou deu certo. Todo o esforço do seu trabalho foi plenamente satisfeito em termos de materializar suas ambições. Construiu casas; plantou vinhas; projetou jardins; plantou todos os tipos de árvores; desenvolveu tecnologia para irrigar suas plantações; teve escravos e escravas que lhe serviram; teve todos os tipos de animais em quantidades exorbitantes; sua reserva de pedras preciosas – ouro e prata – e tesouros era inigualável; desfrutou do melhor do entretenimento de sua época, com cantores e cantora; desfrutou das mais lindas mulheres. Nada, absolutamente nada que podia ter sonhado ficou apenas no sonho. Tudo esteve à sua disposição. Ninguém que o antecedeu alcançou sua “prosperidade”. Entretanto, mesmo compreendendo seu “sucesso”, entendeu tudo como sopro, inutilidade, correr atrás do vento. Nada valeu a pena. Para que lugar o sábio está conduzindo nosso olhar? Claro, como dito, é do ser humano ter suas ambições, faz parte da vida.

Quais seriam os equívocos desse que investiga a realidade em profundidade, então? Quatro pontos merecem ser discernidos. Primeiro que a satisfação na vida não está vinculada as conquistas materiais. O próprio sábio não encontrou satisfação. Pessoas de baixo poder aquisitivo, gente no cheque especial e que não pode ser dar ao luxo de ir em restaurantes recorrentemente podem ser muito felizes e satisfeitas. Alguns tijolinhos viram churrasqueira à carvão em lajes pelo Brasil. Sacada gourmet? Quem disse que trazem felicidade? Em segundo lugar, há o erro em ser megalomaníaco. Ter tudo o que os desejos humanos anseiam? Esse exagero e esbanjamento conduzem exatamente para a banalização do que se conquista. Se tudo o que eu desejo é satisfeito, o prazer em se desejar e se satisfazer se esvai. Só faz sentido a alegria em ser bem-sucedido e em se ter se sabemos o que é o fracasso, a ausência e a falta. Essa dança sucesso-fracasso/posse-ausência faz parte da vida. Não querer dançar essa música é viver em extremos que conduzem para a morte, seja pelo pouco que se tem ou pelo afogamento existencial em um mar de luxo. Terceiro, o conteúdo do que se almeja deve ser pensado. Uma casa; um pomar; uma vinha. Ok… Agora, escravos e escravas e um harém, corpos objetificados para o desfrute de um “dono”? A crise de sentido do sábio não é à toa. Peso na consciência? Provavelmente no caso dele não (ele não conhecia os valores humanistas). Mas que há um problema moral em desejos tolos e perversos, certamente há. Isso, certamente, não faz bem à alma humana, nem que seja inconscientemente. Por fim, qual a razão do que desejo? Egoísmo? Minha própria satisfação? Me estabelecer como o “maior”? Ter tudo pode não significar nada se tudo o que temos não tem um propósito maior do que o nosso próprio umbigo. Esse estilo de vida “tio patinhas” certamente nos colocará em uma crise de sentido. Uma vida sem sentido certamente é uma vida em que não se divide e se partilha riqueza acumulada em cofres particulares.

Como conciliar nossas ambições com uma razão de ser mais profunda e adequada? Talvez nossas ambições e desejos devam ser mais modestos. Quem sabe deveríamos nos sentir plenamente satisfeitos com uma churrasqueirinha de tijolos em uma laje, mesmo que a laje não seja nossa. Essa busca frenética por satisfazer todas as nossas ambições nos levará para um labirinto de desejos desequilibrados e exigirá o sacrifício do sentido da vida que nos é dada no agora. Utopias modestas nos conduzem à felicidade no regar pequenos e belos jardins.

André Anéas

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