Meditações no Eclesiastes 2.12-16

O sábio percebe um fato: tanto o sábio quanto o insensato – o tolo – possuem o mesmo destino: a morte. Diante de tal constatação, a indagação dele é: que sentido há em buscar a sabedoria se, no fim das contas, os sábios irão passar como um sopro do mesmo modo como os tolos? Ele está certo em sua afirmativa e sua indagação tem sentido do ponto de vista lógico. Entretanto, sempre tem algo além no pensamento daquele que investiga o mundo em sua profundidade. Ele analisa essas questões pensando sobre uma sucessão monárquica. Um dia um rei morre e vem outro no lugar. Que esse novo rei fará? Repetirá as mesmas coisas do antigo rei? Ou mudará algo? Não há dúvidas de que o sábio valoriza a sabedoria. Ela é mais adequada do que a insensatez, do que a tolice. Buscar e obter sabedoria significa andar iluminado pela luz, que ajudar a ver aquilo que está encoberto pelas trevas e pela escuridão. Uma pessoa sábia sabe para onde está indo, compreende seus passos e é capaz de discernir para além das obviedades dos pensamentos superficiais.

Tal modo de pensar e refletir possibilita o avanço e o progresso, pois quanto mais sabedoria em relação ao rei que se sucedeu, maior será a capacidade de manter o que está bom, compreender o que precisa ser pavimentado ou construído, entender o que deve ser aprimorado, ou, ainda, ter a coragem em desfazer coisas ruins. A sabedoria, em outras palavras, nos ajuda a ler o passado, clarear o futuro e pensar os sinais do tempo presente. A sabedoria nos coloca verdadeiramente dentro do nosso tempo, do contemporâneo.

Tem gente que não sabe compreender o tempo. Está presente em corpo, vivendo por viver, mas não é capaz de ler o tempo à luz do passado e tão pouco vislumbrar o futuro, configurando seu hoje. Assim é o tolo. Não vê além. Quem não vê além certamente sofre menos; se angustia menos; dorme mais; tem uma vida mais tranquila, quem sabe. Valeria a pena sofrer, se angustiar, perder o sono e ter uma vida mais “intensa” por ser capaz de discernir o tempo? Vale a pena ser sábio? Sábio ou tolo morreremos. Sim… A morte. Essa é a questão. Penso que o sábio do Eclesiastes pode ter dado muita atenção à morte, relativizando a questão da preciosidade da sabedoria. Embora o novo rei morra como seu antecessor, a sabedoria poderá possibilitar novos tipos de flores no jardim da próxima geração. Colocar a morte nesse local de destaque, relativizando a sabedoria, pode ser decretar a morte de gerações futuras. Pensemos sobre o clima do planeta. Sabemos que morreremos. Mas, se formos sábios e cuidarmos da nossa “casa comum”, gerações futuras poderão viver. Se formos todos, morreremos sim, da mesma forma. Entretanto, a morte declarará sua vitória sobre os humanos, ceifando a vida dos nossos filhos e filhas.

Escolher o comodismo da tolice significa perpetuar lógicas mortíferas em nosso mundo, assassinando o amanhã. Escolher o caminho da sabedoria, ao contrário, significa superar nosso olhar egoísta e insistir e persistir em plantar sementes para um mundo que nascerá, gestar um novo amanhã. Se sábios, nossas vidas serão semeadas como sementes de um novo mundo.

André Anéas

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