Meditações no Eclesiastes 5.1

Se aproximar de Deus é algo que gera medo nas pessoas. Medo de ser condenado. Medo de ser descoberto algum “pecado oculto”. Medo de não ser santo o suficiente. Medo de não ser excelente o suficiente. Medo de castigo divino. Medo de não fazer os “sacrifícios” que Deus exige.

Tamanho é o medo que a religião institucional e seus sacerdotes aprenderam a usar esse sentimento de pavor para manipular o povo, o manobrando conforme seus interesses nada piedosos. Esse é um fato na história da humanidade, independente de qual “deus” esteja em questão. O sábio, bem como toda a sabedoria bíblica, dá outra razão para ficarmos alertas sobre quando nos aproximamos do Eterno: a superficialidade. Esse tipo de “religião de performance”, cheia de exterioridade e aparência de piedade, é o oposto do tipo de espiritualidade que se espera de quem se aproxima do Deus bíblico. Se há algo a temer é não sermos sinceros e honestos em nosso interior diante do Senhor. A vivência de uma fé verdadeira não está vinculada apenas com o que se vê.

Essa relação entre interioridade e exterioridade é decisiva aqui. Incensos, ofertas, votos; mãos levantadas, sacrifícios, vestimentas; vocabulário, orações eloquentes, “família de margarina”; diácono, pastor, ministro de louvor; zelo, juiz, severidade. Tudo isso pode indicar exteriormente algo para as pessoas, que, talvez, entendam estar diante de um religioso extremamente piedoso. Mas, não é essa a obediência que agrada a Deus. Fazer sem discernir o que se está fazendo torna a ação uma tolice. Exterioridade sem uma interioridade alinhada com a fé e a espiritualidade bíblica é coisa de insensato. Um ouvido atento, um coração humilde, o reconhecimento de que se é pecador; a contrição, a oração secreta, a ação que ninguém viu; a percepção da graça, do amor e da misericórdia divina cotidiana; o gesto de amor despretensioso, a mansidão, a paciência; a bondade pela bondade, a simplicidade, o desprendimento.

Só há uma coisa há temer quando nos aproximamos de Deus: um coração fingido, uma atuação, uma mentira.

André Anéas

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