Meditações no Salmo 150
Qual o lugar correto para se adorar a Deus?
Essa foi a questão da mulher samaritana, sendo respondida por Jesus de modo a relativizar os lugares sagrados para tal prática. Ele disse: “os verdadeiros adoradores adorarão em espírito e em verdade”. Ou seja, a verdadeira adoração não se refere a um lugar, mas a um coração. O salmista parece antecipar essa percepção, mostrando que Deus deve ser adorado tanto no templo de Jerusalém quanto nos céus, ao “ar livre”, no firmamento. O Eterno é digno de adoração para além dos limites geográficos de um determinado lugar. Sua beleza o torna digno de ser contemplado para além daquilo que o humano possa dar o nome de “sagrado”, pois Ele mesmo não está contido dentro desse tipo de limite humanamente determinado. A experiência de Deus em todo lugar diz respeito a nós enquanto quem experimenta Deus, mas também a Deus, enquanto um Alguém cuja presença misteriosa não possui limite algum. Qual seria o impacto dessa percepção em nossa maneira de experimentar o Mistério? Especialmente aos religiosos, trata-se de uma mudança drástica. Significa uma relativização do lugar de culto como lugar por excelência para louvar ao Senhor. Nessa relativização, a geografia não é mais capaz de determinar a qualidade de um encontro com o Divino.
Não existe mais nenhum lugar que não seja transformado e configurado como ambiente adequado para se achegar a Deus. Em outras palavras, sua casa é tão santa quando a igreja; seu trabalho é tão sagrado quando o parque em que você passeia com a família; a ceia do Senhor servida no ambiente religioso é tão santa quando a comida partilhada com quem tem fome. Todos os espaços são espaços de encontro com Deus, pois Deus é louvado, na verdade, no cosmo ou na Vida em si mesma. Vida essa que Ele é o doador. Esse “mergulho” na existência possibilita uma liberdade encantadora, pois, agora, verdadeiramente, a celebração nunca termina, seja no domingo na igreja ou na cochilada depois do almoço no meio da semana. Nessa liberdade, nosso coração adentra o lugar santíssimo transcendendo qualquer tipo de “parede sagrada”, tornando, no fim das contas, tudo sagrado. Que toda criatura louve! Que toda criatura louvo com criatividade! E, finalmente, que toda criatura louve em todo lugar, pois Ele é digno.
Pr. André Anéas