Meditações no Salmo 143
Que é ter fé?
Erroneamente as linhas mais conhecidas do protestantismo pensam a fé como a certeza que temos em determinadas sentenças teológicas. Se eu crer de determinada maneira, em determinada confissão de fé, de uma maneira elaborada teologicamente x, y ou z, logo tenho fé. Nada mais distante da tradição bíblica. Dentro das orações dos salmistas é possível encontrar algo mais próximo do significado de fé.
Uma boa metáfora é “salto”.
Viver a experiência do salto da fé está mais aderente ao que se vê no testemunho de quem ora. A questão não é a formulação teológica. Isso é racionalismo de ar piedoso. A questão é se saltamos no abismo que está diante de nós. O salmista se mostra angustiado, amedrontado, cheio de inseguranças e dúvidas. Além disso, ele sabe que a sua moral não é suficiente para comprar o favor divino, por isso mesmo suplica para que o Eterno não o leve para juízo. Mesmo assim, com tantos elementos em desfavor, ele se lança em fé, ele salta para o Altíssimo, em uma confiança cega, em uma aposta alta, cujo custo é a vida como um todo.
Nesse saltar, a questão não é o que se crê, mas o como se crê. E como ele vive esse salto da fé? Vive de tal modo como se soubesse que salta para a graça de Deus. Salta em direção a misericórdia. Salta nos braços fortes que não está observando ainda, mas que, pela fé, estão lá. Salta como um servo, como um filho, como um amante do Amor. Salta confiante de que o Amor o amará. Viver a vida é uma experiência um tanto angustiante. Temos inseguranças. Temos medos. Fraquejamos diante da dor e dos sofrimentos. Nossa alma experimenta a angústia, que sequer sabemos de onde veio. Nesses instantes escuros na alma, somos convidados a viver a experiência do salto da fé. Não das certezas objetivas e racionalistas, dos decorebas infantis. Mas experimentar no interior de quem somos a possibilidade de, com coragem, viver pela fé em meio a todo tipo de aflição. Nas noites escuras da alma, saltemos, pois, no oceano da misericórdia do Senhor. Suplicar em silêncio. Suplicar, não somente sabendo, mas sendo pela fé, filhos e filhas de um Pai que nos ama em meio as dores da existência.
Pr. André Anéas