Meditações no Eclesiastes 6.3-6

O desfrutar as coisas boas da vida é o critério utilizado pelo sábio para definir se uma vida vale a pena ou não ser vivida. Um ser humano pode ter muitos filhos e viver por muito tempo, porém, se não tiver uma biografia bonita, melhor seria ter nascido morto. Quem nasce e morre tem seu nome esquecido. Mas, quem nasce e vive sem constituir uma história e um nome a ser lembrado – inclusive no momento do funeral – é pior que o natimorto, mesmo que viva por milênios. Um natimorto não tem um nome, uma história, não viu nada nem conheceu nada.

Assim, comparado a quem vive sem viver, está em vantagem. O natimorto tem descanso. A pessoa que vive muitos anos e não constrói uma vida digna é perturbada e não experimenta nada de bom. O argumento é forte e contundente. Trazer o luto de um bebê que nasce e morre é o lugar que o Eclesiastes nos convida visitar para pensarmos o nosso testemunho no mundo. Confundimos o testemunho com falar sobre a nossa fé. Entretanto, precisamos nos lembrar que testemunho significa a nossa vida como um todo e a sua manifestação na existência. Viver a vida deve, necessariamente, nos fazer pensar: será que a minha vida realmente vale ser vivida? São inúmeras questões que envolvem a jornada da vida que podem ser recordadas aqui. Dentre elas, lembramos a dimensão ética. Nossas escolhas e condutas na vida, são bem pensadas?

Nossos filhos, amigos, parentes, cônjuge, sentem orgulho no modo como fazemos escolhas na vida? Outra dimensão é a do prazer. Obviamente a vida tem muitas tristezas, mas conseguimos dar ocasião ao sorriso, ao gozo da vida, ao deleite, ao descanso e a ternura? Somos agradáveis, as pessoas gostam de estar conosco e de sentarem a mesa com a gente? Podemos pensar também na questão da justiça. O mundo é, claramente, injusto e perverso. Mesmo assim, somos pessoas cuja caminhada transforma a existência em um lugar melhor? Nossas falas e ações se combinam na manifestação do anseio do Eterno por sua justiça no hoje? Nossa vida faz a diferença na vida de quem sofre? Outra dimensão é a relacional. Somos egoístas e pensamos somente em nós e nos nossos? Ou valorizamos a fraternidade humana, a casa comum, o coletivo, o social? Desejamos que tudo o que temos de bom os outros tenham também? Valorizamos a amizade, a lealdade, o nosso próximo? Penso que uma vida bonita não pode deixar de considerar uma postura ética, uma vivência prazerosa, o compromisso com justiça e um espírito fraterno com toda a humanidade e criação.

Certamente existem outras dimensões, mas essas podem nos ajudar em uma reflexão profunda sobre como temos vivido. A nossa vida tem valido a pena? O nosso testemunho e quem somos como humanos definirá se o nosso nome será lembrado na vida ou se deveria ser esquecido. Que tenhamos funerais que testemunham uma vida bonita.

André Anéas

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