Meditações no Eclesiastes 4.13-16
Novamente o sábio toca no assunto do poder. Isso não é à toa. Aliás, as Escrituras como um todo alertam de modo explícito sobre a tentação do poder. Sem dúvida, é um perigo para a alma humana. Justamente por isso, não devemos, em hipótese nenhuma, subestimar essa tentação. Não há sentido no poder. Não é um “jogo” que Deus está presente. O “jogo do poder” é antagônico à sabedoria bíblica, de diversas formas.
Muitos querendo usar o poder que tem para o bem produzem o mal. Seres humanos bem-intencionados, desejosos de promover a bondade, insistem na tese de que quando tiverem poder – o que pode ser um alto cargo, dinheiro em abundância, influência, etc. – ai sim farão a bondade que tanto almejam. Porém, ao chegar em uma posição importante, com boa condição financeira e com muita influência, esse novo lugar que se ocupa deve ser mantido. Essa manutenção relativiza a bondade que tanto se desejou no início. A pessoa nessa situação vai esquecendo ou despriorizando a bondade, em nome de se manter importante e poderoso. O poder, se não dominado, exige um preço do humano a quem ele se entrega. Há também o caso de quem não deseja a bondade, mas o poder pelo poder. Esses são tragados por essa potestade, sacrificando tudo o que tem para conservar a sensação de entorpecimento que o poder gera no coração, fazendo o indivíduo se sentir como um “deus”. Outra situação pode se configurar. A pessoa genuinamente boa e que mantém a sua bondade quando as circunstâncias da vida lhe colocam em posição de destaque.
Muita bondade é promovida por essas pessoas, usando todos os recursos que têm em mãos em favor da justiça. Entretanto, esse tipo de gente tem seu pode subtraído. Conspirações perversas ou maiorias idiotizadas não raramente preferem os tiranos aos humanistas. Esses são os mártires, os profetas mortos, os injuriados, os crucificados. Muitas vezes, sequer aceitam o poder que desejam lhes conceder, optando pelo caminho da resistência, sem se iludir com estratégias inspiradas na carne humana. Por que a bondade não chega ao poder para promover o bem? Pergunta errada. O “poder” de Deus não se expressa dentro da lógica do mundo. Deus optou pela fraqueza, humildade e o amor como virtudes. Ele não joga esse jogo.
A história da humanidade e do poder não tem sentido justamente pelo fato do Eterno operar em outra frequência. Como o sábio diz, o rei idoso é tolo e está no poder. O pobre e jovem, melhor que o rei tolo, assume o trono, mas é destronado pela próxima geração. Qual o sentido? Nenhum! Vento, sopro. De fato, o que pode mudar o mundo é a sabedoria de Deus, que é tida como loucura para os “sábios” poderosos desse mundo.
André Anéas