pastoral

A experiência religiosa

Meditações no Salmo 135

A religião institucional deve ser sempre criticada. Não se trata de uma crítica tola e irresponsável. Historicamente sabemos muito bem que as melhores intenções religioso-institucionais podem e foram deturpadas por interesses egoístas e mesquinhos por parte da classe religiosa detentora de poder. É fato a violência em nome de “Deus”, subsidiada com a força do poder religioso. É fato também a contradição entre o amor e as instituições religiosas, que suplantam os interessem dos outros, por seus próprios interesses. Por isso, a crítica é sempre pertinente, inclusive com o propósito de mitigar o risco de que esse mal volte a ocorrer e se instaurar, desvirtuando a religião. Isso não significa que a religião deva ser eliminada ou que não exista um lado positivo nas instituições religiosas. Se bem compreendida e organizada de modo equilibrado e saudável, existem elementos muito benéficos nas religiões. É justamente esse lado positivo da religião que o salmista destaca, em sua oração cheia de elementos presentes na vida dos religiosos. As convocações do salmista são sempre no plural. Ninguém cultua sozinho.

A religião proporciona encontro, comunhão com o diferente, uma vivência genuinamente comunitária. Ninguém experimenta a fé cristã individualmente, mas sempre no ajuntamento. O salmista também destaca a música entoada para o Eterno. O ambiente litúrgico que acontece nos cultos acontece por causa da religião, que organiza a liturgia para que a comunidade dos que creem adorem e deem testemunho de que são povo de Deus. Nesse espaço litúrgico, a presença de Deus se manifesta de modo místico, pois Deus está no meio do povo. A religião é o local da preservação da memória. Nas festas de Páscoa e do Natal somos levados a rememorar nossa tradição. Por exemplo, ao repetirmos todos os meses a Ceia do Senhor, preservamos a memória desse acontecimento singular que sustenta a esperança da comunidade. As novas gerações aprendem as histórias, os símbolos, de modo que nada se perde, mas é levado adiante de geração em geração. Por fim, é no espaço religioso que se reflete a fé comunitariamente.

Se abre a Bíblia, se estuda o texto perguntas são feitas. Tudo isso contribui para a fé se tornar mais madura e sólida. Somente com reflexão que Deus jamais se torna obsoleto. Somente com reflexão nos tornamos preparados para falar do Altíssimo para todos e todas. A religião tem um lado perverso e deve sim ser criticada. Entretanto, há um lado bom, que, se bem trabalhado, tornará a fé do povo no Eterno ainda mais profunda.

Viva sua vida religiosa com intensidade. Ame a sua igreja local. Desfrute ao máximo do lado bom da religião e viva a experiência da religião.

Pr. André Anéas

A experiência do saudosismo

Meditações no Salmo 132

O povo judeu tem uma história incrível! O que tem sido contado de geração em geração é encantador e nutri a imaginação de cada um que tem um lastro com essas histórias. O “Deus de Abraão, Isaque e Jacó”; “o reinado glorioso de Davi”; “o grande templo de Jerusalém”; as “libertações miraculosas do Deus dos hebreus”. O salmista conhece cada uma dessas passagens importantíssimas para o seu povo. Entretanto, ele está abatido devido a situação ruim pela qual o povo está passando, muito distante das glórias do passado. Diante das recorrentes humilhações, quem ora pede a Deus para “que se lembre” dos momentos importantes, das promessas, daquilo que outrora foi, mas não é mais. Ao mesmo tempo que pede a Deus para se lembrar, o salmista também se lembra e vive a experiência do saudosismo. Quando olhamos o futuro da história de Israel e o advento de Cristo, sabemos da fidelidade de Deus para com seu povo e com todas as nações da terra, como tinha prometido ao pai da fé, Abraão. Porém, sabemos também que a forma como Deus decidiu conduzir esse processo está aquém da expectativa do salmista que pede, insistentemente, para que Iavé se lembre do passado. Sabemos que o Altíssimo conservará alguém no trono de Davi, mas esse alguém é Jesus. Sabemos que ele preservará o seu “templo”, mas os templos somos nós. Sabemos que ele permanecerá fiel a suas promessas, mas elas se cumpriram em Jesus.

Eis o perigo do saudosismo: nos aprisionar na forma das coisas que estão cristalizadas em um passado distante, que paralisa o saudosista, o impedindo de desfrutar das novas possibilidades no hoje e dos desdobramentos criativos de Deus no futuro. O saudosismo nos aprisiona no passado e nos cega no presente e acaba com os sonhos novos no futuro. Problema: o Deus que se revela é um Deus de novidades. O Eterno não deseja conservador tudo do jeito que está. Ao contrário, Ele muda a história, quebra paradigmas e renova cada contexto de forma criativa. Os saudosistas, muitas vezes religiosos ferrenhos, perdem o “bonde da história” e, consequentemente, o novo de Deus. Mesmo olhando para o passado, não nos deixemos aprisionar nele, pois Deus é Espírito e sopra onde, como e quando quer.

Pr. André Anéas

A experiência do céu na terra

Meditações no Salmo 128

Alguns textos das Escrituras, se entendidos literalmente, podem gerar um grande mal-estar no leitor. Esse mal-estar não é fruto de uma intenção maldosa – ou herética – de quem deseja deturpar o texto em prol de algum tipo de benefício próprio. Não. É um mal-estar justo e adequado frente a um tipo de religião que lê o texto de maneira inadequada. Por exemplo: imaginem aquele ou aquela que não se casou, que não tem uma esposa ou esposo, tão pouco filhos para juntar ao redor da mesa em um domingo ensolarado. Ou então o casal que não pode gerar filhos, ou que tentou e devido a circunstância misteriosas da existência a mulher sofreu um aborto espontâneo. Se tomadas ao pé da letra, deparar-se com as palavras do salmista pode significar algumas coisas. A falta de temor e zelo do Senhor, resultando no castigo divino e consequente falta de alegria e prosperidade na vida. Ou, quem sabe, se aquele ou aquela quem lê estiver confiante do seu compromisso com o Eterno, um grande nó na cabeça em virtude de se crer na literalidade bíblica.

Deixando essa leitura simplista, racionalista e tola de lado, acredito que o texto nos diz coisas fundamentais sobre a nossa espiritualidade. Primeiro: temer a Deus, reconhecendo a sabedoria inserida na lógica bíblica como grande norteadora da nossa caminhada é um caminho excelente. Não se trata de um caminho mágico, em que todos os problemas, dores ou sofrimentos serão eliminados. Essa ideia é infantil. Continuaremos enfrentando doenças, dificuldades e desafios gigantes, tendo ou não o temor de Deus. A questão é que ter no Eterno a fonte de sabedoria significa aprendermos a viver. E a vida que se vive com a sabedoria divina é uma vida mais abundante do que a outra. Ouvir e obedecer a Deus significa que estamos em um caminho inteligente, cheio de conhecimento e discernimento. Dessa forma, independente das circunstâncias, a felicidade estará próxima, a família estará unida (independente da configuração) e as bençãos do Senhor estarão sobre nós. Segundo ponto que o salmista nos faz pensar é a imagem utópica dessa cidade de Jerusalém. Infelizmente o mundo não é perfeito. Os problemas são reais e concretos. Nem todos podem priorizar o bem-estar em volta de uma mesa farta, pois sequer casa tem. Mas percebam a imagem que o texto descreve. Uma cidade abençoada, gerações cheias de vigor e vida.

Portanto, uma sociedade em que tanto o bem-estar individual quanto o comunitário é próspero em sentido amplo da existência. Para além das literalidades, o texto nos convida para imaginar e contribuir com esse horizonte. Como como Jesus nos ensina, orar para que “venha o Teu reino”, “assim na terra, como no céu”.

Que a sabedoria do Altíssimo nos dê coragem para concretizar o sonho de Deus e vivermos a experiência do céu na terra a partir da sabedoria que procede do temor do Senhor.

A experiência da dádiva da sustentação

A vida é cheia de causas e consequências – especialmente com um olhar menos atento. Tudo o que se planta se colhe. “Deus ajuda quem cedo madruga”. “Aqui se faz, aqui se paga”. Essa lógica meritocrática está presente em nosso cotidiano. Há certa sabedoria nela. Entretanto, como já mencionado, trata-se de uma ótica superficial. É óbvio que as causas têm consequências. É óbvio que não acordar cedo para trabalhar resultará em pobreza. É certo que se ninguém vigiar, o ladrão entrará facilmente. Mas quem fornece o fôlego de vida? Quem fornece disposição e energia? Quem fornece ar gratuitamente? A sabedoria bíblica e do salmista revela para nós o Eterno como fonte primária de tudo. O seu cuidado nos possibilita vivenciar a experiência da dádiva da sustentação.

Tal dádiva exige de nós algumas reações inevitáveis diante de nossa jornada. Primeiramente reconhecer o fato de nunca termos controle pleno de nada. Ninguém é capaz de gerir tudo em sua vida. Nosso olhar nunca está plenamente atento. Nossas capacidades são limitadas e, igualmente, a nossa atenção. Cabe a nós saber reconhecer esses limites e aceitar a nossa condição limitada. Segundo: reconhecer a nossa dependência do Altíssimo. Muito embora devamos sempre nos esforçar, paira sobre os filhos de Deus a sombra de sua providência, agindo, suprindo, provendo, cuidando e sustentando misteriosamente cada passo, intenção e esforço. Terceiro, expressarmos gratidão por cada conquista e vitória.

Nunca é mérito nosso. Tudo é graça. Somente um coração grato será capaz de vencer a vaidade enganosa dos meritocratas. Somente a gratidão produzirá um coração humilde, que sabe reconhecer a graça e misericórdia diária derramada sobre as nossas vidas. Somente com gratidão seremos capazes de discernir a dádiva do sustento divino sobre os caminhos conhecidos e desconhecidos que percorremos na estrada que se chama vida. Se temos vida é porque o autor da Vida nos concedeu. Quem seremos nós se não reconhecermos as dádivas do Senhor? Que Deus nos leve ao reconhecimento e abra os nossos olhos para percebermos que a vida é dom de Deus!

A experiência do sonho

Somos um tipo de espécie capaz de sonhar. Vislumbramos o futuro. Planejamos o nosso amanhã. Somos criativos. Somos audaciosos. Somos persistentes e insistentes. O Eterno nos fez assim. Alguém que deixou de sonhar, em certo sentido deixou de viver. A falta de sonho – expectativa para o futuro – atrofia o nosso coração e alma, tornando-nos pessoas ancorada em um agora sem nenhuma novidade. Quem não sonha é mais triste do que os que sonham. Quem sonha é mais feliz do que os que não sonham.

Uma cena bonita de se pensar acerca da nossa capacidade de sonhar é imaginar as crianças. Elas não são apenas um receptáculo de estórias de fantasias. Elas imaginam-se dentro da fantasia. Exercitam a sua imaginação e criatividade vislumbrando e sonhando sua participação ativa nesses universos inventados. Para elas, se faltar o vento, elas inventam. Dormem, e sonham com os personagens. Amanhece, e elas brincam da estória que ouviram ontem, mas que sonharam para o amanhã. Sonhar é ato poderoso e subversivo. Transforma a história. Sonhar é dádiva de Deus aos humanos. 

O salmista revela a felicidade do povo exilado que retorna para a sua pátria. “Parecia um sonho”, diz o salmista. O povo abatido, agora fora revitalizado por seu Deus. O povo sem esperança, agora se encheu de júbilo. O povo escravizado, agora está liberto. O povo em prantos, agora sorri. O povo pode sonhar e esperançar. Podemos passar por muitos “exílios” em nossa existência. Mas o pior deles é estarmos exilados da nossa capacidade de sonhar com o novo amanhã. Quando nos é retirada a capacidade de vislumbrarmos o novo, em nossa vida, no nosso próximo e no mundo, praticamente morremos. O Eterno é um Deus que nos concede a graça de sonhar. Tornemo-nos crianças, fantasiando um amanhã melhor, pois amanhã poderemos brincar de um mundo mais justo, sem lágrima, sem dor e sem sofrimento. Do contrário, sem sonhos, seremos apenas viventes passando pela vida, nunca fantasiando, nunca esperançando, nunca brincando de sonhar. 

Penso que o objetivo de Deus ao se fazer gente foi nos revelar que tudo é possível, inclusive tornarmos sonhos em realidade. Que possamos engravidar dos sonhos, pois amanhã eles nascerão!

A EXPERIÊNCIA DA CONFIANÇA NO ETERNO

A experiência humana nos ensina que devemos ter cuidado em depositar a nossa confiança em coisas passageiras. Os que confiam no dinheiro, podem ficar pobres; os que confiam nos bens materiais, frustram-se, pois eles deterioram-se; os que confiam nos humanos, são traídos; os que confiam em si mesmos, decepcionam-se. O depósito da nossa confiança é coisa séria, e pode definir a qualidade da nossa saúde. As angústias de uma confiança abalada podem ser grandes, gerando em nossa alma humana um abalo significativo.

Tal abalo pode nos colocar em lugares existenciais complicados. Uma vez que a nossa confiança foi frustrada, a porta do nosso interior fica escancarada para a falta de sentido, um pessimismo em relação a vida, uma sensação de constante desconfiança de tudo e todos. Ficamos sem chão, com medo e receio de cada passo. Sábio é o salmista! Para ele há um alvo seguro para a nossa confiança: o Eterno! 

Nele podemos confiar, pois uma vez deposita nEle a nossa confiança, nada poderá nos abalar, pois não haverá espaço para o medo, receio, frustração, engano, temor. Os “montes de Sião” dentro de nós não serão abalados se depositamos a nossa confiança em Deus. Os passos que damos quando a confiança está no Altíssimo, são passos seguros, bem dados. A confiança no Senhor é um lançar-se em fé. É um salto seguro. É um atravessamento de um grande precipício com a certeza da chegada no chão firme. Quem confia em Iavé, confia também em sua bondade. O pessimismo diante da maldade do mundo não alcança o coração de quem caminha com Deus, pois sabe que em Deus sempre o amor vencerá. No Eterno não temos o porquê temer que a barbárie, as guerras ou a maldade se perpetue. Sempre o amor vencerá a indiferença; o perdão vencerá o rancor; e a bondade vencerá a maldade. No Senhor a paz está garantida!

Em que temos confiado? Para que ou quem temos dado a nossa confiança? Somente no Eterno seremos satisfeitos e, mesmo diante do mal, não seremos entregues ao desespero, pois nEle, o mal já foi julgado e vencido! Viva e desfrute da experiência da confiança no Eterno.

A EXPERIÊNCIA DA COMUNIDADE

A nossa teologia evangelical tende a ser por demais individualista. É o meu Deus; é a minha benção; é o meu milagre; é a minha vitória. O singular prevalece em detrimento do plural. Entretanto, a experiência que fazemos de Deus prioriza a comunidade. A experiência da comunidade enriquece a experiência pessoal e é essencial se quisermos experimentar plenamente a realidade do Deus testemunhado nas Escrituras. A percepção do salmista exalta justamente isso. O Eterno socorre, Ele protege, concede liberdade. Isso tudo acontece para nós e não para mim

O salmista incentiva todos a cantarem juntos. Somente em comunidade a experiência está completa. É possível perceber essa dimensão comunitária em relação a ação de Deus para com o seu povo. As misericórdias do Senhor e sua eterna graça são concedidas aos humanos, abundantemente derramadas sobre os seus. Ninguém é alvo exclusivo do cuidado de Deus. Deus não é exclusivamente nosso. Nós somos dEle e Ele é de todos. O salmista também destaca a adoração e a gratidão comunitária. Todos cantam. Todos adoram. Todos louvam. Trata-se de uma comunidade de adoradores. Trata-se de uma comunidade que reconhece o cuidado do Bom Pastor. Outro aspecto é o testemunho. O testemunho de Deus no mundo não é visto por um indivíduo, mas por toda a comunidade que é capaz de discernir a presença e ação de Deus no mundo e na história.

O futuro que Deus deseja também não é meu, mas nosso. Os projetos de cuidado do Eterno são destinados a toda a comunidade. Não basta que um seja feliz, que um seja livre, que um tenha o direito de sonhar. O socorro do Altíssimo e seus planos de prosperidade são destinados a toda comunidade. Assim, experimentar Deus e fazer a experiência da comunidade significa perceber e se perceber pertencente a um todo, ao povo, a Igreja, a comunidade do Senhor. Todos nos sentimos amados em nosso particular. Entretanto, somente quando percebemos esse amor de Deus por mim e pelos meus irmãos e irmãs e isso nos faz feliz, é que o amor se torna completo, pleno, atingindo o seu ápice e sem resquício de egoísmo. Quando sabemos que somos amados e que o amor de Deus não excluí, mas agrega, e isso é bom, é que experimentamos a realidade do Deus Trino – Deus comunidade – em nossas vidas. Somente em comunidade podemos experimentar a realidade do seu amor, amor destinado ao seu povo.

A EXPERIÊNCIA DA CASA DO POVO DE DEUS

experiência da casa do povo de Deus foi experimentada no passado quando os israelitas se reuniam no templo em Jerusalém. Embora compreendamos a nossa experiência espiritual à luz do Novo Testamento, em que existe um deslocamento do templo para o corpo do humano, muitos traços daquilo que o salmista diz ressoa em nossa espiritualidade cristã. O ajuntamento dos discípulos e discípulas de Jesus continua sendo uma prática singular da vivência da fé, desde os primórdios do movimento de Jesus. Da mesma maneira como descrito pelo salmista, a alegria está presente nestes momentos. Estar junto do povo de Deus é motivo de júbilo, de contentamento, de festa e de muitos sorrisos. A alegria na vida de quem segue ao Cristo é marcante, vem de dentro para fora. Longe de um mero hábito ritualístico, os fiéis sorriem com o coração, por isso cantam e batem palmas animados, expressando o que está dentro deles. 

Outro elemento nos ajuntamentos e encontros dos cristãos é o senso de pertencimento. Ninguém vive a espiritualidade cristã sozinho, isolado e de maneira individualista. A fé é experimentada coletivamente, em grupo, em comunidade. A percepção de que somos povo de Deus, que estamos protegidos no ajuntamento, de que possuímos uma identidade é importantíssimo ao estarmos na casa do Eterno. Mais interessante é o fato de que mesmo todos sendo parte do povo do Altíssimo, há diferentes “tribos” entre nós. Nesse sentido, muitas vezes o excesso de denominações dificulta a percepção de que o povo de Deus é plural, feito de humanos com diferentes culturas e modos de pensamento, e de que esta pluralidade não é ruim. Ao contrário, expressa a beleza do Deus trino. Ser parte desse povo e viver a experiência de caminhar com esse povo implica responsabilidade. Vivenciar essa fé implica em compromissos com elementos como justiçapaz e amizade. A desigualdade, as contendas e o ódio não pertencem a cultura dessa comunidade do reino de Iavé. O Eterno, através do salmista, nos sinaliza com clareza que desfrutar da experiência da casa do povo de Deus implica, necessariamente, em meio a toda diversidade, seriedade e compromisso comunitário, para a preservação dos valores dEle. 

Que possamos diariamente se alegrar por estamos na casa do Senhor. Mais: que somos casa juntos de outras casas, nos alegrando com. Que pertencemos com. Que temos identidade na pluralidade, pois todos refletimos e agimos com justiçapaz e amizade, como povo!

A EXPERIÊNCIA DA PROTEÇÃO

Na vida temos desafios inúmeros. Durante a caminhada nos sentimos amedrontados, inseguros e vulneráveis frente as contingências da existência. Muitas são as possibilidades de nos ferirmos no meio do caminho. Sabendo disso o salmista descreve um tipo de cuidado que o Eterno desprende sobre aquele que tem no Senhor a sua confiança: a experiência da proteção

Longe de significar ausência de problemas ou da dor, a proteção divina é sobre nós em meios aos problemas e realidade difíceis da vida. Os “montes”, altos e imensos diante de nós não desaparecem. Nos deparamos com esses gigantes cotidianamente. Entretanto, o socorro protetivo do Altíssimo é maior do que os altos montes que nos afligem. Deus é aquele que fez céus e terra, sendo, pois, superior as grandes montanhas. De alguma maneira sabemos que sempre podemos crer na proteção divina, uma vez que Ele é superior e maior que qualquer problema ou dificuldade. Uma segunda faceta da proteção divina é que a sua proteção envolve um tipo de cuidado que nos ajuda na caminhada, para não “tropeçarmos” na jornada da vida. 

Como protetor, o Eterno é aquele que mantém alerta os seus filhos e filhas. A sabedoria divina está sempre disponível como fonte inesgotável de conhecimento para o humano discernir armadilhas e caminhos ruins da existência humana. Como fonte de sabedoria, Deus cuida de nós nos capacitando para estarmos sempre em alerta diante da maldade, inclusive a nossa. O Eterno é aquele que nos protege também daquilo que não temos como conter ou nos precaver. Sua sombra soberana é sobre nós, nos guardando daquilo que não podemos nos guardar. Tanto as queimaduras do sol como o entorpecimento da lua serão contidos pela experiência protetora do Pai que nos protege e preserva a nossa vida e existência. A proteção do Eterno envolve também a certeza de que aquele que é por nós não é autor do mal e do pecado, mas fonte do bem e da justiça. Sabemos que no que depender da vontade dEle a maldade não nos atingirá e nEle teremos sempre a possibilidade de uma vida plena, em abundância.

Por fim, o Eterno nos promete uma proteção atemporal, que envolve nossa saída e entrada, desde agora e para sempre. Não há limite de tempo para a sua proteção. Seja na inocência da infância ou em idade avançada, a boa mão protetora daquele que É, será sobre o humano, lhe preservando e protegendo a vida gratuitamente.

A experiência da Lei da vida

Pensar acerca do sentido e significado da “Lei” soa muito mal quando nos compreendemos no evangelho da graça de Cristo Jesus. Entretanto, a partir de Jesus, temos condição de observar com clareza aquilo que o salmista já tinha percebido: que o espírito da Lei da vida nos livra do peso da própria lei (Rm 8.2).

Essa libertação abre espaço para uma sabedoria da vida, acenando para uma plenitude da existência. A experiência da Lei da vida nos faz contemplar o padrão de Deus, especificamente o padrão do seu coração terno e amoroso. Essa experiência abre os nossos olhos para a Lei como sabedoria que enche o coração humano de potência para a Vida! A Palavra cheia de conselhos prazerosos pode, assim, adentrar a alma humana. Em meio as nossas instabilidades e medos, somos inundados por restauração, mudança no prumo da jornada. As instabilidades são vencidas, pois no Eterno temos amor e saborosos conselhos. As promessas do Altíssimo rejuvenescem a alma. A sua revelação é um bálsamo que cura o interior. Em sua Palavra somos satisfeitos por um amor que é derramado em toda a terra. Somos tomados de bom senso por parte daquele que é fonte do Bem. Somos abraçados e envolvidos, mergulhados e encantados, curiosos e atraídos pela sua Lei da Vida!

Naquele que ama a sua Lei não falta esperança, renovo e prontidão. Como um vigia se atenta aos inimigos, tua Palavra me faz vigiar as feiuras que tentam roubar a beleza de viver. Nada roubará a confiança do que ama a Lei da Vida para o Senhor! Ele se revelou em amor, sem erro. É um mar de discernimento e entendimento para a caminhada. Luz em meio as trevas. Luz que ofusca o engano. Luz de sabedoria que nos torna sábios. Meditar no Livro é meditar na Vida, pois o Livro é Livro da Vida. Meditação que é refúgio silencioso em sua Palavra. É como encontrar joias de ouro. É amor e paixão por suas Leis. Sua sabedoria transforma cada estrada da existência em caminho de amor, justiça e alegria: é vida plena e abundante. Suas Palavras duram para sempre, são confiáveis. Essa sabedoria faz brotar graça e misericórdia. Não tem como não ficar extasiado, maravilhado, emudecido depois de apreciar a Sua sabedoria. A percepção da Sua voz nos dá prazer, doçura. Como é bom viver a experiência da Lei da vida. Faltam palavras para expressar e descrever…